01 abril 2006
Esoterismo
A velha casa do pastor envelhece e adoece por cada dia que vê passar, espirrando mágoas e limpando o pó do caminho.
Só tem por companheiras as figueiras espinhosas que dão frutos carnudos e melosos.
Um mestre de Feng Shui teria aqui um trabalho árduo para devolver à velha habitação todas as energias que as pessoas, os animais e a dureza do ambiente lhe tiraram, década após década.
Contra geadas frívolas, contra trovoadas barulhentas, contra a vontade da passarada fazer o ninho, contra o calor ofegante, contra as chuvadas renovadoras, contra os copos de vinho sem-fim, contra o progresso inevitável, a carta esotérica de melhoramentos globais, trariam alegria à velha estrada de pedras roliças que nem as rodas das carroças, dos tractores, das bicicletas, nem o pisar constante de dias e dias a fio, as faz quebrar da sua irritante e desconcertante habilidade para nos tentar inflingir com as agulhas invísiveis da guarda avançada, que são essas resistentes figueiras da Índia.
Sob o olhar destruido do velho palheiro sem tecto, espera que não a deixem sozinha na luta contra inimigos fiéis, ou será que a aguarda o mesmo destino de ficar sob a luz das estrelas?
Feng Shui do longíquo oriente, traz-me a leveza do sol nascente, mas não me leves as minhas velhas e orgulhosas figueiras.
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